quinta-feira, 24 de junho de 2010

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 21 de junho de 2010

FICHA LIMPA ... Até que enfim

Parece mentira... o quanto somos vagarosos no exercício da nossa democracia, mas desde a Constituição de 1988, que assegura o eleitor brasileiro o direito de apresentar projetos de lei de iniciativa popular, projetos que deveriam representar o anseio da sociedade e elaborados pela mesma, exercemos esse direito em apenas quatro ocasiões:

- a Lei 8.930/94 (também conhecida como Lei Daniella Perez), que inclui o assassinato praticado por motivo torpe ou fútil, ou cometido com crueldade, na Lei dos Crimes Hediondos, impede o pagamento de fianças e impõe um tempo maior da pena para a progressão do regime fechado ao semiaberto;

- a Lei 9.840/99 tipificou o crime da compra de votos, incluindo a possibilidade de cassação do registro do candidato que doar, oferecer ou prometer bem ou vantagem pessoal em troca do voto;

- a Lei 11.124/05, que cria o fundo nacional de habitação popular, proposto pelo Conselho Nacional de Moradia Popular; e

Após quase oito meses e devido a um grande clamor social, no dia 19 de maio foi aprovado o projeto de lei Ficha Limpa, que reuniu 2,5 milhões de assinaturas, sendo a avaaz.org (uma rede de ativista para mobilização global através da Internet) responsável pela coleta de 1,9 milhões de assinaturas entre os internautas. A lei impede a candidatura de políticos condenados criminalmente por órgão colegiado e aumenta de três para oito anos o período de inelegibilidade dos candidatos após o cumprimento da pena.

Os projetos de iniciativa popular têm que ser "acolhidos" por parlamentares ou pelo presidente da República para que possam tramitar no congresso, já que o nosso legislativo admite não ter como conferir os mais de 1 milhão de números de títulos de eleitor e assinaturas que a lei exige de um projeto dessa natureza. De acordo com a Constituição Brasileira, entidades poderão patrocinar a apresentação de projetos de lei, desde que se responsabilizem pela coleta de assinaturas. Os projetos do Ficha Limpa e da cassação por compra de votos foram patrocinados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Quando foi promulgada a Constituição de 1988, o então presidente da Assembléia Nacional Constituinte, Dr. Ulisses Guimarães afirmou: " A Constituição quer mudar o homem em cidadão... Só é cidadão quem ganha justo e eficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa" (Weffort, 1992). Ante a nossa realidade enquanto sociedade; a nossa legalidade constitucional; a capacidade em exercer uma democracia participativa, por que a nossa inércia em mobilizar-nos no exercício da cidadania? Até onde a "corrente" daqueles que acreditam que a democracia participativa se "choca" com a outra (representativa) influencia o povo? Vinte e dois anos e apenas 4 leis de iniciativa popular, somos um povo, no mínimo, satisfeito.



quarta-feira, 16 de junho de 2010

NOVENTA MINUTOS

O dia parecia feriado, notava-se uma certa histeria no ar, parecia que algo histórico estava para acontecer. Uma mistura de nervosismo e euforia. Nas ruas podia se sentir entre as pessoas aquele sentimento lindo e quase único de união. Entre cervejas, churrascos, salgadinhos, ruas e todos enfeitados, às quinze horas o país praticamente para para ver o Brasil fazer sua estreia na copa do mundo de 2010.
É óbvio que não vou falar dos aspectos técnicos do jogo, pois o meu entendimento de futebol, vai um pouquinho além da hora em que a bola passa entre as traves e fica presa na rede e a gente pula e grita goooooool. Tampouco opinar se o Dunga fez a escalação certa ou errada. Também compartilhei uma cervejinha, gritei, vibrei, sofri... alegrei-me com os gols e satisfiz-me com a vitória.
Mas os noventa minutos se passaram e com ele as vozes, que antes unissonas, agora silenciam-se . O sentimento de amor ao país adormece, os nossos interesses voltam ao individualismo com que estamos construindo a nossa história. Voltamos ao nosso dia-a-dia com aqueles problemas que não fazemos nada para resolvê-los. Esquecemos do quanto somos capazes de nos mobilizar e clamar por uma sociedade mais justa, humana e igualitária.
E ... no domingo estaremos todos unidos de novo. Brasillll!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não vou "hibernar"


Olá! Estou atrasada nas postagens, peço que me desculpem. Como hoje é segunda-feira, dia em que adoro escolher para mudanças, que nem sempre acontecem. Lembrei-me da minha filha que costuma dizer que a partir da decisão de mudanças, qualquer dia e qualquer hora é bom para começar. Mas eu faço parte daquelas pessoas que escolhem a segunda para começar o regime, a caminhar, a parar de fumar ( minha grande batalha), a estudar etc. E nessa eu vou organizar o meu tempo e afazeres para que eu consiga postar. Não! decididamente não vou "hibernar". Vamos combinar que com esse frio que está fazendo, nada melhor que ficar quietinha e encolhidinha num canto. Sem culpas né... afinal até computador hiberna. A bem da verdade ele salva tudo antes de hibernar e eu perco tempo e idéias. Já comecei errado... não era para escrever este post agora. Vamos à segunda-feira. Um beijo no coração de todos e uma boa semana.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

VAMOS COBRAR MAIS...

Vi recentemente o noticiário a respeito da lancha que afundou no lago Paranoá, em Brasília. A lancha que tinha capacidade para seis pessoas, transportava na hora do acidente dez pessoas, todos sem o colete de segurança, "Dos oito resgatados, cinco estavam com hipotermia e foram levados ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), mas sem ferimentos graves. Três continuam internados." (fonte: Correio Brasiliense). Os corpos das duas moças desaparecidas foram encontrados três dias depois do acidente.

Segundo o Delegado: “Nós podemos dizer que o acidente aconteceu por um somatório de fatores. Por tudo o que vimos até agora, houve no mínimo imprudência e negligência. Como piloto habilitado, José Júnior tinha por obrigação exigir o uso do colete, principalmente por parte das meninas que não sabiam nadar”. (fonte: Correio Brasiliense)

Ao ouvirmos acidentes como esse, imaginamos a dor dessas famílias, acompanhamos o seu sofrimento. Talvez aquela mãe só conseguia atribuir a culpa ao piloto movida pela dor da perda de duas filhas. Creio que ambos os lados, tanto piloto quanto os passageiros e suas famílias são vítimas. Não quero parecer fria, mas eram dez jovens maiores de idade. "As meninas" a qual se refere o delegado, tinham 19 e 23 anos, as duas irmãs mortas, e outra 26 (a irmã sobrevivente). Não acredito que desconhecessem a capacidade da lancha e muito menos o uso OBRIGATÓRIO do colete de segurança. Eram dez cabeças a pensar. Não foram coagidos a entrar na lancha. Até onde houve conivência em permitir que o piloto ingerisse bebida alcoólica?

É nessa hora que temos que pensar em cobrar mais dos nossos filhos – RESPONSABILIDADE - para que eles possam ser condutores das suas vidas. Se o piloto foi imprudente e negligente na condução do seu ofício, esses jovens o foram com as suas vidas. Segundo o Direito Brasileiro: A culpa pressupõe a previsibilidade do resultado. "Existe previsibilidade quando o agente, nas circunstâncias em que se encontrou, podia, segundo a experiência geral, ter-se presentado, como possíveis, as consequências do seu ato. Previsível é o fato cuja possível superveniência não escapa à perspicácia comum" leciona NELSON HUNGRIA (in "Comentários ao Código Penal, 5ª ed.Forense, vol.I,tomo II, p. 188). Nós temos a cultura do "coitadinhos" estão traumatizados, já foram penalizados. E somente um vai responder por homicidio culposo. E também deve estar traumatizado porque a intenção dele não era matar. A nossa legislação tem que ser revista e a nossa visão ante as determinadas (algumas anunciadas) tragédias também.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Isso também passa

Outro dia encontrei no ORKUT de uma amiga, algo sobre o Chico, que julguei valer a pena reproduzir, pela sabedoria - vindo do Chico, não poderia ser outra forma, e por nos levar a refletir sobre os nossos momentos. Resolvi postar do jeito que lá estava:
"Chico Xavier" costumava ter em cima de sua cama uma placa escrita:
"ISSO TAMBÉM PASSA...
Aí perguntaram para ele o pq disso.
E ele disse que era para se lembrar que qdo estivesse passando por momentos ruins, poder se lembrar de que eles iriam embora. Que iriam passar.
E que ele teria que passar por aquilo por algum motivo.
Mas essa placa também era para lembrá-lo que qdo estivesse muito feliz, não deixar tudo para trás e se deixar levar, porque esses momentos também iriam passar e momentos difíceis também viriam de novo.
E é exatamente disso que a vida é feita de MOMENTOS.
Momentos os quais temos que passar, sendo bons ou não, para o nosso próprio aprendizado.
Por algum motivo nunca esquecendo do mais importante: NADA É POR ACASO.
Não estamos aqui por acaso,
não conhecemos as pessoas por acaso,
nao vivemos por acaso.
Tudo acontece por algum motivo,
e o que tiver que acontecer vai acontecer,
e nada, nem ninguém vai mudar isso..."


Retirado do ORKUT, de Rosa Maria Pereira Pereira