Duzentas horas... não sei se houve troca, pois não sei o que dei ou quanto doei-me, mas com certeza aprendi com todos: instrutores, colegas e principalmente, com os idosos. Muito vou levar, até daqueles que, lamentavelmente, acham que só têm a ensinar. Vivi verdades teóricas e práticas mentirosas ou será que eram mentiras teóricas e práticas verdadeiras... não importa, se o significado da palavra verdade é o que se experimenta, que se alcance na prática a teoria, aquela que condiz com o respeito, com a dignidade, com o amor ao próximo, com o comprometimento com o fazer melhor.
Falar de cada um não seria difícil já que soube de lutas, dificuldades, barreiras vencidas e a serem vencidas. Percebi procura por mudanças, senti a garra de cada um... obrigada, por compartilharem essas duzentas horas comigo. Mas, a maior lição eu vou levar de alguém especial, pelo exemplo maior de força, alguém que por diversas vezes chegou pernoitada, que esteve sempre alegre ou passa sempre uma alegria, participativa, que doou os seus conhecimentos. Foi uma tranqüilidade tê-la como companheira no estágio. Aquela que assim como a outra, que também teve seu filho assassinado, não perdeu a doçura e não deve ser por acaso que se chama Maria (Cecília).
Senti o aconchego das mãos enrugadas pelo tempo, muitas que outrora foram produtivas, laboriosas e agora retinham as minhas, buscando segurança, carinho, o elo, a certeza de não mais estar sozinho. Ouvi histórias e muitas vezes me encontrei nelas, lembrei do avô, da avó, da mãe, pessoas queridas e desconhecidas daquelas, mas com histórias tão parecidas, identifiquei-me e me projetei.
“Verbalizei a paciência” para ouvir tantas vezes a mesma história, para manter o diálogo confuso, por não ter a resposta de tantas perguntas, para conter a indignação por não poder mudar a instituição, por ser mais um elemento em atuação e não de transformação. Mais uma vez, senti-me impotente diante da vida.
Penetrei os olhos que falam e perguntei-me: será que são tão expressivos porque ela não consegue mais falar. Como dizem tantas coisas, pedem socorros, externam a tristeza e a alegria. Vou guardar para sempre os olhos de Laura, não porque eram de um azul lindo... mas porque eles refletiam a sua alma, eram os mais intensos.
Quantas horas têm uma vida? Algumas desperdiçadas, outras bem vividas, há ainda aquelas sofridas, tristes, doloridas. Há as só de alegria, esperança, fé, e nessas duzentas horas... vivi todas elas, ali contidas.
(Maio/2009, no término do curso de Cuidador de Idoso, após o estágio no Solar das Vivendas)
foto: Internet
Oi dona Enice, nossa amei!!!!!Muito lindas as suas palavras querida, chega a emocionar. Amo textos, adoro escrevê-los e fico muito encantada quando vejo alguém escrever com o coração e não apenas com as palavras que saem de uma hora pra outra, mas sim aquelas que não pedem licença pra mostrar o quanto é o bom falar o que o coração tenta expressar. Beijos querida...Nathalia
ResponderExcluirObrigada querida, muito bom que você tenha gostado. Volte sempre, sinta-se em casa. bjs
ResponderExcluirCom certeza vai ficar pra sempre em sua memória,foi mt bom saber q vc tem paciência e dedicação pra cuidar dos nossos velhinhos,que normalmente acabam abandonados pela sua própria família.Bjs....
ResponderExcluirConstatar essa realidade (do abandono) e muito triste.
ResponderExcluirbjs