sábado, 24 de abril de 2010

Portas

Acabei de fazer minha porta, era uma velha porta de madeira que precisava ser reformada, e enquanto estava trabalhando nela, comecei a pensar justamente nisso – portas. Não em portas velhas, novas, de madeira, ferro, inox ou qualquer outro material que se possa fazer uma porta, mas nas portas que se abrem e se fecham em nossas vidas, naquelas que nós mesmo fechamos, naquelas que não nos foram abertas, naquelas que não conseguimos transpassar, nas que queremos abrir. E ainda há aquelas que queremos alcançar. Se diante de mim, havia apenas uma porta, dentro haviam inúmeras portas. As que não tinha aberto não eram tão incomodas quanto as que deixei emperradas. Essas incomodavam muito mais, como os casos mal resolvidos, as situações não acabadas, aquilo que deixei para trás, muitas vezes, sem o mínimo esforço para entender o que tinha por trás. Sem falar nas que havia trancado e que nem arrombando elas se abririam mais. Houve também aquelas que pareciam até “portas da felicidade”, que a gente transpassa como se estivesse entrando no paraíso, se esquecendo que felicidade é um estado da alma e não um lugar comum, e que muitas vezes, chegamos a ela depois de atravessarmos a porta da angústia, da tristeza ou do desespero.

Não fiquei pensando em quantas e quê portas mais passaria, refleti sobre algumas, para que eu possa fazer com mais segurança e discernimento todas as minhas travessias. Não quero mais bater as portas. Ainda as que se apresentarem emperradas, quero ter a calma e paciência para fazê-las mover mesmo que devagarzinho. Sei que algumas causarão dor, vão requerer grande esforço, um exercício constante de boa vontade e acima de tudo perseverança. Quero jogar as minhas “chaves” fora, para que os meus filhos, a minha família, os meus amigos e aqueles que por mim cruzarem possam encontrar sempre a porta aberta, pronta a entender, compartilhar... acolher.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sonhos


Creio que diversas pessoas, em várias ocasiões se pegam pensando nos seus sonhos, mais exatamente no que fizeram com eles. Talvez seja a tal da crise da meia idade, ou “a tal” não tenha haver com a idade, mas com o que foi feito dos seus projetos de vida, das suas escolhas... dos seus sonhos. E isso pode acontecer em qualquer idade, desde que haja insatisfação ou mudanças. E é como me encontrei: a sensação de que de repente comecei a fazer o caminho inverso da pirâmide social, de que estava na contra-mão da vida, me desnorteou completamente, perdi o chão. Aos cinqüenta anos, desempregada e tendo que trabalhar, além de não poder escolher , me vi completamente perdida, desorientada e exercendo funções que nem no começo da vida profissional exerci, era o declínio, o meu martírio social. Roubaram as minhas referências. E como não tinha outro jeito você começa a se justificar, que desde que seja honesto, todo trabalho é digno etc, começa a encontrar justificativas para o fracasso, mesmo que você seja capaz e queira fazer outra coisa, ou melhor, que você tenha se preparado para fazer algo mais. Começa-se então a se viver entre os dois “Rs”, o da resignação e o da revolta.
Está estabelecido o conflito. É uma briga cruel, íntima, um verdadeiro duelo interior, em que ambos os lados são muito fortes , é a necessidade e a idealização, o ter que provir e a satisfação, a humildade e orgulho.
E no meio desse turbilhão de pensamentos e sentimentos, me pego pensando onde foram parar os meus sonhos, o que fizeram com eles ou o que eu deixei que fizessem com eles e descobri que a tal da “resignação” havia colocado-os em um “baú”, como se eu não tivesse mais direito a sonhar, a buscar idealizá-los, condenados ao esquecimento. E me peguei pensando por que o ser humano tem “baú”, se geralmente esquecemo-nos, seja material ou imaterial, o que guardamos dentro dele, ainda que tenha sido guardado com muito carinho ou cuidado. Não sei se foi a revolta, mas abri o meu “baú” , e recuperei os meus sonhos , e com eles a força, a garra, a vontade de realizá-los, não como aos vinte anos, mas como quem pode ter mais vinte anos para torná-los realidade . E só o fato de estar escrevendo depois de tanto tempo, ainda que mal, com grande dificuldade de coordenar as idéias, estar estreando este blog é o começo do resgate de um dos meus sonhos - ESCREVER.

foto: Internet